terça-feira, 11 de agosto de 2009

Materia antiga, mais atual - Caixa Preta

A eterna caixa-preta 26.01.2006

Matéria de Eduardo Vieira, publicada pela Revista Exame (Edição 0860 de 01/02/2006)

Há cerca de dois anos, durante uma inspeção trivial em seu parque de computadores, a General Motors do Brasil fez algumas descobertas. Havia pelo menos 600 computadores a mais do que a empresa acreditava ter. Todos fora da configuração-padrão e da política de segurança da empresa. Depois, a GM detectou a presença de 3 000 licenças a mais de diversos programas, como o Microsoft Access e o Adobe Photoshop. Elas estavam pagas, mas jamais haviam sido utilizadas. Por fim, descobriu 23 000 arquivos de música em MP3 nas pastas de rede dos funcionários -- que dividiam espaço com 1 456 cópias de arquivos diversos, como o jogo Truco Virtual. Diante do problema, o então diretor de tecnologia da GM do Brasil, Mauro Pinto, não teve opção a não ser arrumar a casa e instaurar uma política rígida de controle. O trabalho ficou pronto em 2005. Somente com as licenças dos programas que não eram utilizados, a economia foi de 2,7 milhões de reais.

O tipo de problema enfrentado pela GM é muito mais comum do que se imagina. Não é de hoje que o departamento de tecnologia é visto como uma caixa-preta nas empresas, tão impenetrável que ninguém -- nem mesmo os responsáveis diretos pela área -- consegue enxergar o que existe lá dentro. Para piorar, entra ano e sai ano, as providências tomadas pelas empresas para resolver o problema são insuficientes -- e não parece que tão cedo a situação mudará. Ao instalar um computador na mesa de cada funcionário, a companhia se coloca diante de um dilema. Se impuser controles e restrições em excesso, perde em produtividade. Se for muito permissiva no uso dos PCs, abre espaço para dores de cabeça no futuro. "O cenário é tão complexo que nem falamos mais em resolver a questão, mas, sim, de impor um limite à falta de controle", diz Alfredo Pinheiro, diretor da consultoria Compass no Brasil.

O primeiro passo para colocar ordem na casa é saber com certeza o que existe na infra-estrutura tecnológica. "A lógica é óbvia: se você não sabe o que tem, simplesmente não pode gerenciar nada", diz Mauro Pinto, da GM. Conhecer o parque tecnológico de uma empresa parece um problema simples, mas não é. Na Basf, de acordo com executivos próximos, depois que alguns computadores apresentaram queda súbita de desempenho, foi descoberto o furto de pentes de memória de dezenas de máquinas. (A empresa nega os furtos e afirma que "a dificuldade de controle é algo inerente a qualquer ambiente de tecnologia".) Uma siderúrgica multinacional deu pela falta de 300 micros. Uma empresa aérea nacional detectou 150 computadores com cópias do jogo Half Life, que os adolescentes pagam para jogar em lan houses

Uma vez determinado o tamanho do problema, é preciso partir para as medidas corretivas. Existem programas especializados em monitorar o que cada funcionário faz no computador. Somente a venda desse tipo de software movimentou mais de 6 bilhões de dólares em todo o mundo em 2005. Mas trata-se, acima de tudo, de um problema de educação. "Como garantir que um funcionário não utilize o computador do colega que está em férias? É impossível monitorar tudo o tempo todo", diz Marco Leone, presidente no Brasil da Computer Associates, uma das companhias que fornecem sistemas para monitorar o parque de tecnologia das empresas. "Dificilmente os funcionários entendem que o computador não é deles, mas da empresa", afirma Pinheiro, da Compass.

O recente interesse pela governança corporativa também deve aumentar a pressão por transparência e padronização. "A governança na área de tecnologia começa com uma gestão competente dos ativos da empresa", diz Antonio Leitão, diretor da IBM. Mas, novamente, falar é muito mais fácil que fazer. A tecnologia muda constantemente, e as empresas contratam e demitem funcionários. Numa estrutura com milhares de máquinas, espalhadas por todo o país, talvez a meta mais razoável seja simplesmente evitar o caos completo. "Numa grande empresa, que possui uma infra-estrutura tecnológica imensa em diversas filiais, o gestor só tem certeza absoluta do que vê pessoalmente", afirma Osmar Koga, diretor da BMC Software. "Nesse cenário, 90% de certeza já é uma conquista."

O desafio da transparência

O departamento de tecnologia das empresas tem muitos custos escondidos

70%das empresas têm uma infra-estrutura tecnológica diferente da que imaginam ter

6,2 bilhões de dólaresfoi quanto as empresas gastaram em 2005 para monitorar o que existe dentro de casa

25%do orçamento de tecnologia pode ser economizado com um plano de gestão

Fonte: Gartner

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